domingo, 5 de julho de 2009

Jour de souffrance - Catherine millet

Os mistérios do desejo

Postado por Luciano Trigo em 05 de julho de 2009 às 16:10

A psicanalista Maria Rita Kehl precisou se conter para não transformar a mesa As sem-razões do amor numa sessão de psicanálise: Cathérine Millet é um prato cheio para qualquer divã. É verdade que, em alguns momentos Maria Rita não resistiu a enveredar por um jargão ligeiramente fora de lugar, cheio de “interditos” e “recalcados”, o que me parece uma forma involuntária de fugir do assunto que realmente interessa nos livros da escritora, suas aventuras sexuais. Ainda assim, Cathérine, cuja expressão angelical não cansa de me impressionar depois do que li, disse coisas interessantíssimas, a propósito de seus dois livros, A vida sexual de Cathérine M. (surpeendentemente esgotado: me parece que a editora comeu mosca) e A outra vida de Cathérine M. (Jour de souffrance, no original).

Exemplos:

“A minha crise de ciúme passou quando me dei conta de que eola me dava um prazer masoquista.”

“Não existe ciúme verdadeiro que não seja sexual. A crise não teve nada a ver com amor, sentimento que não estava em questão na minha relação.”

“Sempre tive um duplo olhar sobre as coisas: quando eu tinha relações sexuais, eu via os meus parceiros, mas também via a mim mesma na cena. Isso cortava um pouco o meu prazer, porque penso que o prazer sexual intenso depende de um abandono total. Mas talvez esse outro olhar que me acompanha sempre seja, justamente, o olhar do escritor.”

“Pratiquei muito sexo grupal, em clubes ou com grupos de amigos, mas continuei tendo meus tabus. Justamente imaginar Jacques Henric fazendo amor com outra mulher era algo inconcebível. Mas era nisso que eu pensava quando me masturbava.”

“Não escrevo para me curar de alguma coisa, mas para me desembaraçar de mim mesma. A escritura apaga a memória primária das coisas, a ponto de eu não ter mais certeza de ter vivido tudo aquilo sobre o que escrevi.”

“A liberdade sexual foi algo natural para mim, entrei nela como num jardim cheio de flores perfumadas. Meus pais brigavam muito, e minha mãe tinha um amante. Desde cedo percebi que a família não era um valor absoluto. Então não se tratou de uma transgressão contra pais tradicionais”.

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